domingo, 2 de setembro de 2012

Mais uma madrugada

  O relógio marca exatamente três horas, cinquenta minutos e cinco segundos da manhã, mais uma madrugada que se passa em claro, não posso dizer que o sono não veio, porque até que ele tentou me convencer a ir para a cama, mas minha consciência não quis, deliberadamente ela preferiu ficar alerta e pensando mais uma vez sobre tudo que me trouxe até aqui, tudo isso depois de mais um dia frustrante. Caro leitor, se você está feliz, sugiro que não termine de ler este texto, vá fazer outra coisa, sei lá, vai jogar xadrez ou ouvir uma música, há coisas melhores para se fazer, trata-se aqui de um pessimista.
  Me considero um pessimista, vejo tudo pelo lado mais negativo, vivo pensando no que pode dar errado e vai dar errado, dificilmente me coloco para cima, tendo a me levar para baixo. Mas, apesar disso, sei que no fundo sou um otimista, me permitirei a contradição, pois quem é comunista, jamais será um tremendo pessimista. Por favor, sem aquele papinho de que falta deus no coração, no meu caso, claramente é isso, uma vez que sou ateu, mas nem por isso saio matando, roubando, xingando, sendo mal educado. Preferência religiosa não define caráter.
  Certas coisas não conseguimos explicar, meu estado de amargura, desânimo e tristeza vem desde pequeno, desde que tenho memória ou consciência do que faço não me lembro de ter muitos dias felizes, minha instabilidade não é de hoje, minha ansiedade não é de agora, vêm de tempos distantes, não me recordo do "trauma"(se é que ele existiu) que desencadeou tudo isso. Percebem por que não fico falando disso o tempo todo, cansa, não é? Mas também acho chato demais essa coisa de ter que parecer feliz o tempo todo, isso também cansa. Só espero poder rir quando quero e chorar quando desejo.
  Por muito tempo adorei a solidão, ainda gosto bastante dela, trata-se de algo muito útil, ficar rodeado de gente o tempo todo é uma porcaria. Mas ela, a solidão, tem me incomodado. Com raras exceções, fico pouco à vontade para convidar alguém para fazer algo, sinto que não tenho intimidade o suficiente, dificilmente sei quando é um bom momento, há uma dificuldade em decifrar certos aspectos da convivência, acho que me falta um certo tato social. No fim, gosto dos programas mais monótonos, ficar conversando já é uma grande coisa, sempre descubro ou percebo algo interessante, parece impossível qualquer conversa não levar a nada, mesmo que seja um motivo para riso. Faz tempo que não fico sentado numa calçada jogando conversa fora, sem tempo ou preocupação para acabar, pensar nisso me leva a ter inveja de crianças que se divertem sozinhas com qualquer coisa e lembrar de velhos amigos da infância e adolescência.
  Devo desculpas a um monte de gente, pessoas que gostam de mim, mas que acabo tratando mal em momentos de loucura ou inconstância, provavelmente nunca lhes pedirei perdão, não sei se é por falta de vergonha na cara, mas também é algo difícil, às vezes nem consigo pedir um pão na padaria, embora esse lado tenha melhorado, também me surpreendo quando falo algumas coisas, mesmo sem jeito e de forma embaraçosa em algumas situações.
  Também percebo que tenho ficado cada vez mais chato, mas talvez isso passe, espero, senão as coisas ficarão mais desanimadoras. 
  Não sou de contar histórias felizes, a minha mesmo é um exemplo, as dramáticas me encantam mais, talvez seja identificação, mas reconheço que tenho tudo para melhorar, falta entender de onde vem tamanho desconforto, de onde brotam sentimentos confusos de forma tão constante, estou obstinadamente em busca de respostas, mas ainda não foram encontradas, tendo a pensar que nunca serão e essa possibilidade é maior, embora no fundo, mas lá no fundo mesmo, guarde a esperança de que haverá uma luz no fim do túnel, caso contrário já teria acabado com esta palhaçada toda. Mesmo assim vou vivendo. 

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