quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Nota sobre observações sociais/comportamentais

  Há uma barreira que não é tão simples de ser quebrada entre a consciência de algo e a mudança de comportamento esperada a partir daí. Por um grande período você é socializado de uma forma e quando entende que isso precisa ser mudado a mudança não será automática, mas gradual, suscetível a erros e recaídas, aos poucos deixando de serem automáticas e naturais certas formas de agir para incorporar as novas. O problema pode ser lidar com os erros identificados no processo de adequação do comportamento, você pode conseguir lidar com isso de forma mais tranquila ou se retrair pelo medo do erro, pois depois de feito a nova consciência vai lhe cobrar, dependendo do alcance dessa cobrança, a pessoa pode sucumbir, se anular, ter medo de arriscar. Certamente o ambiente que o indivíduo encontrar e as pessoas podem ajudar ou atrapalhar, facilitar ou dificultar, incentivar ou não. O esforço será não jogar tudo fora, mas aprender a controlar aos poucos o equilíbrio da razão e do agir por impulso, tendo que contrariar anos de treinamento, de condicionamento por uma nova forma de ser, pensar e agir.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O que é ser adulto?

   Após mais um fim de semana catastrófico me pego sentado numa calçada, bebendo água, no meio da tarde conversando com um amigo e pensando na vida. Dentre esses questionamentos eu me perguntei o que é ser adulto? Algo que eu não sinto, embora seja visto socialmente como um e cobrado por ter comportamentos esperados para tal condição.
  Bom, podemos considerar um aspecto de idade, ser maior de dezoito anos, por exemplo; talvez uma questão psicológica, como alguém maduro, consciente e capaz de certas responsabilidades da vida; pode ser um critério biológico de uma etapa de desenvolvimento da vida; pode ser um aspecto social como a possibilidade de fazer coisas proibidas a outros sujeitos, tais como casar, trabalhar, morar sozinho.
  Seja qual for a visão adotada, não consigo me associar a nenhuma. Estudo, tenho emprego, pago minhas contas, consigo discernir o certo do errado, cumpro com minhas obrigações (e é raro alguém que possa dizer que descumpri um acordo ou a palavra empenhada), desde criança sempre tive comportamentos considerados bastante responsáveis, mas enfim, nada me traz uma identificação com o mundo adulto. Nesse caso, o que fazer quando a expectativa social não corresponde à minha identidade? Eu só consigo me sentir deslocado.
  No que dependesse de mim, só leria e correria, nada mais que isso, sem nenhuma outra responsabilidade, até porque todo o resto que faço não vejo muito sentido, fico me perguntando para quê o desgaste? Talvez seja o que uma amiga me falou: -"você não odeia a sua vida, você odeia o capitalismo". Mas não sei, meu desconforto existencial me acompanha desde a infância, desde sempre, desde que tenho memória.
  Não encontro respostas satisfatórias para tais questões, acho que estou distante de resolver meus conflitos identitários, nesse caminho só alimento ansiedades e vícios para esquecer dos dilemas, num caminho que pode ser bastante perigoso, que me levou para mais uma calçada e preocupou pessoas queridas. Em síntese, como diria a música da banda Vespas Mandarinas, "eu não sei o que fazer comigo".
 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Sobre Inadequação social

    Inadequação social é se sentir desconfortável com todo mundo, estranho, como se fosse algo inacabado ou fora do lugar. Não falar muito por não saber o que falar, não dar continuidade aos diálogos, ter de forçar algo que não lhe é natural, normal.
   Sentir que mais incomodo do que ajudo. Se perceber pouco ou nada interessante, indiferente em qualquer lugar ou situação. Ter a percepção de que está atrapalhando se puxar assunto ou em qualquer outra ação. Se não te responderem, negarem, adiarem, significa confirmar que você não nasceu para viver em sociedade. 
   Pode ser um sentimento ambíguo de querer estar e, ao mesmo tempo, não querer mais estar com os outros. De repente você se sente deslocado, inapropriado, sentindo que não lhe querem por ali. Se sentir evitado, rejeitado, desnecessário.
   Um infinito sentimento de incompletude, desconforto por se sentir suplicando uma atenção e então é melhor deixar pra lá. Se sentir isolado e incomodado com isso, mas sem conseguir resolver, sem poder confiar, sem segurança para se abrir ou arriscar. Encontrando uma solução temporária no álcool, por exemplo. Em tese você pode até saber o que fazer, mas ter consciência de algo não implica em ação ou domínio de prática, até porque essa realidade pode estar distorcida, idealizada em relação ao que é para os outros por conta de sua debilidade social, acarretando uma perspectiva sempre negativa do que fez ou faz. 
   É se sentir um eterno estorvo para você e para os outros, um chato que assim justifica sua solidão. Algo desnecessário. Insignificante por, aparentemente, não conseguir sentir nem retribuir. 
   Em síntese: eterna insegurança, desconforto, isolamento e sentimento de abandono em relação aos outros. 

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Se deuses existissem, ele preferiria a companhia dos demônios.

  Poderiam ser as palavras de despedida, as últimas de uma triste existência, mais um rascunho de um adeus planejado. Mas o que lhe falta é coragem, no fundo uma ponta de esperança que as coisas podem melhorar antes de voltarem a piorar para aí aguentar e continuar.
  Talvez a música lhe salve, pois a desconfiança na existência humana parece incorrigível. Nenhum deus pode resolver ou ajudar na sua situação, até porque se esses seres mitológicos existissem, ele preferiria o inferno, sem dúvida a companhia do demônio. Ele adora um pecado.
  Não cabe julgar, não sabemos se é possível ajudar. Não sabemos como ajudar. Impotência. Só nos resta assistir a autodestruição, nem assim ele tem conseguido colocar um fim, apenas prorrogando a dor. Tomara que não fira mais alguém nesse caminho para o fim.
  Ele acha que não é capaz de amar, e não falo apenas em sentido carnal. Ele disse outro dia que simplesmente não sente. Que lástima. Incerteza.
  Acho que nunca houve um dia de paz. O caos é o seu caminho. Assim seguirá, pelo menos enquanto suportar. Enquanto a ponta de esperança por dias melhores o manter na existência. Por monentos que ainda lhe são significativos, ele vai persistir. Até que tenha coragem do ato fatal.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Não há tempo para ter tempo

Não tenho tempo...
Para dormir como gostaria
De ler aquele livro
Que me indicaram outro dia

Não tenho tempo...
De ouvir
Uma música que seja
Até a próxima peleja

Não tenho tempo...
Me sobra distância
Já não tenho esperança
De encontrar velhos conhecidos, pessoas queridas

Não tenho tempo...
Mas tenho necessidades
Vivendo pra sustentar
Um estilo que não quero

Não tenho tempo...
Tudo é postergado
Até que um dia
Não possa mais

Não tenho tempo
Uma certeza
Que a existência acabará
Incompleta...

Pela falta de tempo.


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Breve lamento

Nossa experiência é construída na dor
Compartilhada em cada sofrimento
Nem por isso mais fortes
Apenas sentimentais


domingo, 10 de janeiro de 2016

Sobre uma vida.

  Esta história se inicia num tempo não tão distante, trata-se da vida de um indivíduo que nasceu cerca de um quarto de século atrás. Sobre o início pouco se sabe, afinal de contas, quem lembra do início da própria vida?! Tampouco se tem algum registro, ele não é alguém muito conhecido. O pouco que se sabe foi através da sua família, mas ele nunca prestou muita atenção no que falaram e o tempo fez apagar a memória.
  O que se sabe é que sua vida foi marcada por mudanças, logo pequeno mudou de cidade com sua mãe e pai, saindo do interior para um grande centro. Suas lembranças começam a partir daí, ainda pequeno cresceu cercado de vários amigos, marcado pela timidez, pouca fala e pouca coragem para as artes tipicamente infantis. Como não poderia faltar, teve um grande melhor amigo, alguém com quem ousava compartilhar certas coisas, mas nunca foi muito aberto a relações e mesmo assim guardava seus maiores segredos para si. Lembra de uma infância incrivelmente feliz, com percalços é evidente, mas de saldo positivo. Seus percalços, em grande parte, causados pela incrível ansiedade que o abatia, levando a pensamentos e ações perigosas, mas ele resistiu sozinho, nunca foi de se queixar, pelo menos até ali.
  Mas eis que a vida pode trazer inflexões profundas, sua família se muda outra vez, desta vez para um lugar mais distante, de cultura diferente, o menino, já adolescente, pouco gostou, não se adaptou. Talvez por timidez, talvez por resistência, aquele jovem se isolou, acabaram-se as amizades, sua rotina se limitava ao convívio em casa e na escola, por pura obrigação, nada mais que isso. Por sorte, fez um amigo, ou melhor, alguém o fez amigo, um menino que insistia em puxar conversa, não se sabe muito bem o motivo, pois simpatia e abertura sentimental nunca foram o forte de nosso jovem, talvez mais uma daquelas pessoas simplesmente incríveis ou teimosas que o abraçaram. Talvez esse amigo nunca tenha tido noção da importância que teve para o nosso personagem principal, muitas conversas, muitas risadas. Por decisões e circunstâncias da vida, os dois se separaram ao findar o ensino fundamental, mudando de escola e reduzindo o contato a zero praticamente.
  Muda-se a escola para o ensino médio, vem outra realidade, novamente o isolamento e a persistência de seus problemas com ansiedade e socialização. Em outro momento chave de sua vida conhece quatro meninos e uma menina, tornam-se amigos, ao longo dos três anos seguintes o grupo de seis pessoas sofre ausências e voltas de alguns membros, permaneceram como núcleo dois meninos mais o nosso caro personagem, relação que permanece até hoje, embora separados pela distância nos últimos anos, mantendo correspondência e visitas anuais.
  Termina o ensino médio e nosso jovem muda-se para cursar universidade, como não poderia ser diferente, ele chega e permanece isolado por um ano inteiro, mantendo suas relações essenciais com família e colegas de aula. Sempre foi observador e atento, embora não interagisse, sabia quem eram todos os colegas de curso, não só de classe, decorando todos os nomes e histórias que ouvia pelos corredores, foi criando uma imagem de cada um, com alguns simpatizou, outros nem tanto. Seu isolamento nunca foi deliberado, ocorria "naturalmente", mas seu interesse por política mudaria bastante este quadro.
  A partir do segundo ano de graduação resolveu participar do movimento estudantil porque achava algo importante, sempre gostou de política, história e economia, desde criança impressionava adultos por assistir e ler jornais ao ponto de até ser repreendido pelo pai por interferir nas "conversas de adultos", uma tremenda falta de educação para quem vem de uma educação incrivelmente tradicional, onde qualquer um mais velho é tratado como senhor ou senhora. O envolvimento com política o obrigou a conhecer pessoas, a falar em público, a se arriscar com interação social, coisa que nunca foi o seu forte, isso o fez crescer, perder alguns medos e encarar multidões, não que a timidez tenha desaparecido, ainda é um sofrimento falar com os outros, seu corpo sua, as mãos tremem, o coração dispara.  Finalmente fez amizades na nova cidade.
  Na universidade se distanciou e se aproximou de várias pessoas, seja por perceber incompatibilidades, seja por discordar de ideias, sua mente sempre foi inquieta e relutante em aceitar "verdades", alguns chamariam de dogmas. O mais incrível foi conhecer pessoas, trajetórias que o sensibilizaram, que o tocaram e ensinaram, entrou em contato com perspectivas diferentes, ficou alegre, ficou triste, emocionado, angustiado, com raiva, com vontade de mudar o mundo, de ajudar, de mudar, enfim, nunca mais será o mesmo, aprendeu a se apaixonar pelos outros e suas histórias, a ouvir e respeitar mais. Mesmo que muitas dessas pessoas nem sonhem com isso, ele guarda lembranças carinhosas de muitos que compartilharam algum momento de vida ou período de convivência e amizade.
  Durante a maior parte do tempo em que se manteve isolado ocupava o tempo lendo, estudando, bebendo, correndo, ah, a corrida e o álcool foram grandes descobertas da vida para ele! Certamente garantiram que sobrevivesse aos dias difíceis. Sempre teve dificuldade em expressar o que sentia pelas pessoas, sejam quem fossem, familiares, amigos e os amores. Não que sinta vergonha de externalizar, mas é algo simplesmente difícil, ele quer, mas não consegue integralmente, mas isso tem melhorado na medida em que interage mais com o mundo, talvez porque comece a praticar e confiar mais em si e nos outros. Sempre se achou invisível, ainda se surpreende quando alguém lembra dele. 
  Se fazer amigos sempre foi difícil, se relacionar mais intimamente com alguém foi muito mais, teve poucos relacionamentos, poucos amores, até evitou ou ignorou galanteios por não saber como agir nem demonstrar afeto em público ou simplesmente na intimidade com o outro, uma tarefa árdua, não porque não sinta, mas porque é algo que não flui como deveria, foi cobrado por isso e certamente perdeu relações por isso. Se lamenta muito por essa dificuldade, pois quer dar vazão ao que sente. Mais recentemente se arriscou a conhecer profundamente pessoas, se envolveu profundamente, talvez mais do que deveria porque ao fim ficou partido, arrasado, mas tem sobrevivido. Chegou a se questionar se vale a pena continuar se relacionando, mas tem tentado, tem melhorado, mas tem descoberto que os rompimentos são muito difíceis, tem se apegado aos outros e as rupturas o corroem, ele não sabe manter uma distância, ele se entrega e quebra a cara, não tem conseguido perceber onde tem errado, os amores o tem deixado, embora diante de muitos elogios, pode ser apenas retórica, ainda não sabe, só sabe que tem amado e sofrido bastante com os fins, com os corações partidos. 
  Por sorte tem encontrado amigos e, principalmente, amigas que o ajudam, elas são valiosas e espera que tenha deixado isso claro a cada uma, bem como o quanto tem carinho por cada uma, assim como a seus familiares, para seus amores parece que isso não tem ficado evidente de forma suficiente, quem sabe um dia melhore, é a sua esperança. Falando em amigas, sempre preferiu socializar com mulheres, e os amigos que teve ou tem não se enquadram num padrão sexista ou preconceituoso, por exemplo, nem as meninas na verdade; pois enxerga na vivência com a maioria dos homens e até mulheres uma concorrência estúpida por coisas ou pessoas, além de destilarem muitos preconceitos e agressividade no modo de ser, as características de socialização que o incomodam ainda não estão muitos claras, mas são mais ou menos estas, acaba por preferir os diferentes dos padrões condicionados socialmente, é onde se sente acolhido.
  O jovem de nossa história passa por um momento de ruptura e ao mesmo tempo de novas perspectivas, tem sido doloroso, mas tem sido alegre também e é importante lembrar disso, nem só de tragédia é feita sua trajetória, embora seja o que mais o marque. Sua história continua, não se sabe até quando, mas na medida do possível espero que ele me atualize para que eu possa acompanhar e relatar pois as histórias de vida me apetecem.