domingo, 17 de junho de 2012

O House tem a perna, eu tenho a ansiedade e alguém pode ter outra coisa

  Não me lembro ao certo, mas quando comecei a assistir o seriado Dr. House ele já devia estar na quarta temporada. Também não lembro o que me fez parar na frente da televisão e assistir o programa, só sei que me tornei um viciado na série, depois daquele dia, acompanhei toda a temporada e resgatei as passadas para me atualizar.
  Me identifico com a série, com o personagem do médico esquisito que tem problemas em manter interações sociais e de comportamento complicado, fora dos padrões de riso a todo momento. Aliás, não é só com ele, assisto outros programas que trazem gente esquisita, como Bones e Dexter. Pra quem me conhece, não é novidade a timidez e o jeito quieto no primeiro ano de contato, alguns demoram quinze minutos para se sentirem à vontade, eu costumo levar um ano, em média. Já me confessaram (e não foi um nem dois), que me viam, qualquer dia desses, entrando em sala e matando todo mundo, como já ocorreu em vários lugares do mundo, para mim, é motivo de muito riso, acho engraçado, ao menos é melhor que ficar ofendido.
  Mas não tenho só problemas em interagir com o público ou as pessoas ao meu redor, desde que me lembro problemas com ansiedade me acompanham. Não se trata daquela que qualquer um sente quando encara algo que considera importante, mas sim, de algo que me acompanha diariamente, até mesmo nas coisas mais pequenas e cotidianas, como a dor que o Dr. House encara todos os dias na sua perna, que o atormenta e influencia no seu humor, nas suas relações.
  Como a dor acompanhada na série, não posso dizer que só isso é responsável por tudo que sou, na verdade, ela pode ser até uma desculpa para muitas coisas que eu deixo de fazer, um motivo para se fazer de coitado e ficar esperando, mas na maioria das vezes ela atrapalha realmente, só quem tem uma dor crônica ou outro tipo de dificuldade constante sabe do que se trata (não falo da dificuldade que as pessoas encaram no seu cotidiano, de luta por sobrevivência e dignidade, se trata de algo diferente, que lhe atrapalha se somando a isso), você acorda e antes mesmo de perceber se é dia a ansiedade já está lá.
  Se engana quem pensa que ansiedade é só um sentimento ou sensação, para mim, ela significa também uma manifestação física, não quero citar tudo, pode ser constrangedor e meu desejo não é de suscitar pena, isto não ajudaria em nada, acho que só quero "denunciar" mais uma realidade que nem parece tão ingrata, mas pode ser bem sofrida. De repente, seus batimentos aceleram, você sua parado, seu corpo treme, o sono vai embora por dias, se concentrar exige mais esforço do que nunca, você fica acelerado, enfim, encerro por aqui, como já disse, se continuar poderá se tornar inconveniente. Imagine isso e algo mais todos os dias da sua vida, não existe cura, assim como não existe cura para a perna do Dr. House, desse modo, consigo compreender seu mau humor diário, assim como sua infelicidade.
  O mais estranho de tudo, como o médico do seriado que considera seu problema importante para estimulá-lo a pensar e trabalhar bem, penso que a ansiedade extremada também é útil para mim, antecipo, tento ser o mais racional possível para evitá-la e acabo me tornando eficiente em muitas coisas, mas sei que não sou só isso, ao menos, penso que não, espero ser mais que isso, senão sou apenas mais um viciado que acha que não pode viver sem sua droga, na realidade tento combater todos os dias a minha dama chamada ansiedade.
  Procurei esconder de todos os meus problemas, sempre, até mesmo dos mais próximos, tanto que procurei ajuda somente aos dezessete anos, depois de uma crise aguda, quando não mais sabia se suportaria levar a vida adiante. Assim como a dor do personagem, em alguns momentos a ansiedade se manifesta mais aguda, isso leva a um estado de tristeza maior do que o normal, nos leva a ficar simplesmente deitados, sem vontade de nada, até mesmo de viver. Nesses momentos, vejo como o seriado me ajudou, consigo ver isso no senhor Gregory House, pode ser difícil, mas a morte não resolve nada, embora pareça especialmente tentadora em muitos momentos. Nunca tinha visto alguém parecido comigo, tanto na personalidade como em ter problemas parecidos, vendo o seriado, por mais inocente que pareça, vi que não estava sozinho em um caminho amargurado, isso me deu força, me vi no personagem Dr. House, acho que vem daí tanto amor pelo programa e compreensão com o insuportável médico, inclusive tenho o Wilson na figura dos meus amigos gêmeos, compreensíveis demais com um louco que os atormenta.
  Lá se vão vinte anos convivendo com ansiedade, ou menos, porque tenho memória de uns cinco ou seis anos de idade pra frente, poderia escrever um livro sobre esta experiência diária e tudo que me ocorre por conta dela, mas no momento é isso. Depois de anos de sofrimento calado, resolvi compartilhar, não só com os próximos, mas de certa forma com o mundo, a minha história. Como o seriado, talvez isto ajude alguém a perceber que não está sozinho, embora o problema central possa ser diferente, talvez uma outra dor crônica ou problema permanente que lhe acompanhará pelo resto da vida, mas que não impeça de vivê-la, pois, assim como o House tem o problema da perna, eu tenho a ansiedade e alguém pode ter outra coisa. 
  

2 comentários:

  1. Muito interessante seu posicionamento. não tenho exatamente esse tipo de problemas mas, de uma forma que não sei bem se consigo explicar agora, seu se-abrir lançou uma luz sobre um determinado aspecto da minha vida. Obrigado e escreva sempre...

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    1. Bom saber que tenha ajudado alguém de alguma maneira. Mais penso do que escrevo, mas certamente seu apoio me motiva a continuar devaneando (está certa a grafia do último termo?).
      Obrigado também pelo retorno, gratificante.

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