Como a maioria dos textos que falam da Marcha da Vadias, poderia começar situando o leitor do que se trata esta marcha, onde começou e por quais motivos, antes que a palavra vadia possa ser mal interpretada; mas este não é meu objetivo com o texto, acredito que na internet seja fácil encontrar as informações referentes à marcha em âmbito geral (se informar devidamente é preciso, cuidado com suas fontes!). Mas quero falar das minhas impressões sobre a marcha de Maringá, não só do dia, mas dos acontecimentos e pensamentos em torno da movimentação.
Participei da 1º Marcha das Vadias em Maringá, antes disso, havia participado do evento de "lançamento" da marcha que abordou os motivos que levavam ela a ser feita nesta cidade. Considero importante um evento deste porte na cidade, ainda mais se tratando de Maringá, uma cidade extremamente conservadora, diriam alguns provinciana, ouvi muitos comentários negativos em relação ao que foi feito, muitas pessoas ficaram horrorizadas com o que viram, o que!? Mulheres protestando contra o machismo e querendo direitos iguais?! Ainda por cima, algumas com seios de fora!? Alguns ficaram chocados e não perceberam que não se tratava de promiscuidade gratuita, mas sim, de alerta ao danos do machismo, da opressão que sofre a mulher e ainda é colocada como culpada; não se tratava de querer direitos para se vestir como puta, mas de se vestir como quiser, poder fazer e ter direito de se igualar aos homens, ter salários iguais, não ser vista como objeto e até o mais elementar e que se refere à preocupação de uma mãe: querer no mínimo uma creche para deixar seu filho enquanto trabalha.
Nós, homens, não temos noção do que é ser mulher, nosso machismo pode aflorar até em momentos considerados insignificantes, nem chegamos a perceber, tamanha pode ser a naturalidade com que encaramos certas coisas. Tento policiar minhas ações, tento não ser machista e sim um feminista, não é uma tarefa fácil, fui criado para ser homem assim como a maioria, recebendo ensinamentos que podem ser machistas da própria mãe, afinal de contas homem é homem, como diria uma música de mal gosto.
Antes da marcha em Maringá, tinha consciência da importância da luta das mulheres contra o machismo e por direitos, no mínimo, iguais aos dos homens, mas quando ocorre algo significante, como a manifestação, paramos para pensar melhor e tomamos maior dimensão do tamanho do problema, principalmente quando junto disso, assistimos palestras e corremos atrás de mais informações, aí sim, a realidade nos toma de assalto e é capaz de nos espantar, certas coisas que consideramos ou não reparamos que existem no cotidiano batem á nossa porta: ouvir relatos de pais que sequer deixam seus filhos homens tomar suco num copo rosa parece algo de outro mundo ou século longínquo; sem contar coisas mais cruéis, como histórias de pessoas que sofreram agressões e a coerção em torno da mulher ou das meninas para que façam coisas de menina.
Infelizmente, nem todos param para pensar adequadamente quando têm a oportunidade, não conseguem quebrar a barreira do seu conservadorismo, não têm a mente aberta para propiciar o debate, parecem discos riscados que reproduzem sempre o mesmo som, sempre os mesmos argumentos mal construídos, incapazes de transcender uma observação rasa. Deste modo, se coloca a necessidade, não só das mulheres, mas de todos os oprimidos nas mais diversas circunstâncias e tempos, de duvidar de tudo que é certo ou naturalizado, procurar quebrar barreiras e suscitar a discussão em torno de temas polêmicos, se coloca a necessidade de problematizarmos nossos dogmas e organizarmos formas de mudança, chamar a atenção para o que está errado e levantar soluções, precisamos apontar e corrigir falhas, a sociedade precisa ser debatida para que possa ser mudada, se coloca a luta dos oprimidos contra o conservadorismo dos que oprimem.
A nota mais negativa da marcha das vadias em Maringá fica por conta da imprensa local, ou parte dela que prestou um desserviço ao debate e à questão. Acompanhei a cobertura de dois canais, no primeiro, começaram bem, dando apoio à luta das mulheres e colocando sua necessidade por direitos iguais aos dos homens, mas no fim, o apresentador acabou fazendo o velho discurso de culpabilizar as vítimas de estupro por se vestirem de forma, julgada, promíscua, um terrível erro; quanto à segunda emissora, coitados! O apresentador, é triste pensar em um ser humano assim, é um lixo, se negou a comentar sobre a marcha das vadias em Maringá, deu sinais de que falaria bobagem e daquelas bem preconceituosas, dá pra ver que na casa dele lugar de mulher é na cozinha e calada, pobre coitado! Morrerá na ignorância de sequer entrar no debate. O pior de tudo, é que estes infelizes formam a dita opinião pública e influenciam muito as pessoas, devem ter faltado à algumas aulas do curso de jornalismo sério.
A marcha foi importante, o primeiro passo foi dado e os próximos devem ser melhor refletidos, encontrar erros e os significados que devem ser dados nas próximas, mais do que colocar o debate, é importante ampliá-lo, esclarecê-lo para que não ocorram desenganos aos desinformados, ficam os frutos mas também os desafios.
Minha atenção foi chamada com a marcha e os eventos que dela fizeram parte(eventos de esclarecimento tão importantes quanto a manifestação, tem de ser investido e divulgado mais isso nossos próximos anos) ,espero que de tantos outros também. Mais do que nunca, os homens devem se aliar às mulheres e não vê-las como inimigas ou subalternas, que os pais não se preocupem em tornar seus filhos homens em machos e as meninas em damas recatadas subservientes, mas sim, seres humanos iguais, independentemente do sexo, só isso. Vamos perder nossos preconceitos e sermos todos vadios e todas vadias, iguais!
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