No Brasil, o ensino de Ciências Sociais nas escolas de ensino fundamental e médio, de forma geral como Sociologia ou Estudos Sociais, se apresenta intermitente, aparece na grade das disciplinas obrigatórias e some, aprece como uma matéria optativa e depois é retirada. Mas desde 2007 voltou a configurar como obrigatória no ensino médio nacional.
A implementação da Sociologia no ensino médio é considerada importante, geralmente, os documentos oficiais tratam da importância da formação crítica do cidadão capaz de atuar em sociedade, a relevância da construção da cidadania. Obviamente é importante que formemos cidadãos críticos, capazes de conhecer os problemas e dinâmicas sociais, e talvez mais do que isso, que possam fazer algo com este conhecimento, que possam agir no meio em que vivem.
Em 2001, Fernando Henrique Cardoso, nosso ex-presidente, vetou o retorno da Sociologia ao ensino médio, alegando a insuficiência de profissionais na área para suprir a demanda que seria criada. De fato, este problema ocorre ainda hoje, visto que a própria disciplina tem dificuldades de obter sequência na rede de ensino e acaba não atraindo tantos profissionais interessados. Mas este panorama de falta de profissionais vai mudando, o retorno da disciplina nas escolas de ensino básico cria o interesse das universidades e das pessoas na graduação de Ciências Sociais.
Infelizmente, na falta de professores graduados na área, principalmente em cidades menores e carentes de universidades, as aulas de Sociologia acabam sendo ministradas por pedagogos, formados em letras, professores de história e geografia e até mesmo, pasmem, por matemáticos. Todos com poucas horas de Sociologia durante a graduação, ou seja, não são as pessoas indicadas para ministrar tais aulas.
Ciências Sociais não é a mesma coisa que pedagogia, história ou qualquer outra disciplina do currículo. Há metodologia própria, autores próprios, estudos específicos, enfim, é uma área singular, os mais capacitados a ensinarem o saber sociológico são os cientistas sociais. Sociologia não é achismo ou palavras ao vento, mas sim, uma ciência, possui objeto e metodologia, tem recursos próprios e profissionais próprios, assim como a história cabe aos historiadores e a pedagogia aos pedagogos com suas respectivas competências.
Qual a solução para este quadro? Ampliação dos cursos de Ciências Sociais nas universidades (as públicas de preferência), abertura de concurso para a matéria que atrairia professores dos grandes centros para o interior do país e tornaria a opção mais interessante para os que fogem da instabilidade das aulas. Não que isso seja a solução imediata e total, mas seria um começo.
O que o governo faz? Cria o PARFOR que gradua professores da rede em diversas áreas em dois anos com aulas no final de semana, onde fica a qualidade do profissional? No lixo, como se qualquer coisa bastasse. Nesta perspectiva governamental, educação não é prioridade, pelo contrário, está cada vez mais precarizada, tanto a base quanto o ensino superior. Com programas semelhantes ao PARFOR, o governo simplesmente economiza, não abre concurso, não abre vagas a novos profissionais, não abre novos cursos e universidades públicas, mas é uma economia que custa caro lá na frente, mas quem paga a conta é a população mais desamparada e necessitada que fica sem oportunidades de ensino e profissionalização decente.
Não importa o partido, PSDB ou PT já não fazem muita diferença, nossas escolas ficam à mercê da própria sorte assim como nossas universidades, haja material humano! Parecem pequenas coisas, cotidianas, que diretamente e aos poucos, de forma quase ingênua ou imperceptível, afetam a qualidade do ensino das crianças e dos adultos, mas ligadas a um problema estrutural maior, de uma sociedade que não visa o atendimento das necessidades humanas, mas que se reduz ao que é mais rentável.